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PLÁSTICOS. O BOM, O MAU E O VILAO.

O feitiço virou-se contra o feiticeiro. De repente o mundo elegeu o plástico como o maior inimigo do planeta, a maior praga inventada pelo próprio Homem, e sobre a qual este deixou de ter mão, como se este produto, omnipresente no nosso estilo de vida, tivesse ganho vida própria e se tivesse virado contra as espécies, humana e marinha.

Eu, Marta, auto-intitulo-me guerreira desta batalha. Mas, como em todas as guerras, precisamos de conhecer o nosso inimigo para o combater devidamente, e não desatar a disparar em todas as direcções.

E então decidi parar, ler e conhecer melhor os vários tipos de plástico que andam por aí, e o que de bom e de mau eles têm.

Verdade seja dita, eu nem sonhava no que me estava a meter! Esta tarefa, revelou-se, no mínimo, árdua, densa, chata até, um sem fim de informações contraditórias, que precisei de confirmar em várias fontes para a dar como certa. Li algumas opiniões, estudos, artigos, bem assustadores. Percebi que, à semelhança da forma como nos chega hoje a informação em relação a muitos outros temas, também aqui encontramos muita desinformação que nos leva a acreditar em statements com pouco conhecimento de causa. Mais ainda, encontramos a resposta que queremos ler, ouvir, a favor ou contra o argumento que procuramos.

Mas aprendi muito, mais do que esperava, e espero conseguir partilhar com vocês algum do conhecimento que fui reunindo…

O BOM

O plástico, esta invenção do início do Séc. XX feita a partir de um subproduto do petróleo, teve e tem um papel transformador na nossa forma de estar e melhorou a nossa vida nas mais diversas formas:

  • Na medicina, através de biomateriais inovadores que, graças à sua versatilidade, permitem substituir e regenerar tecidos vivos; A sua capacidade de se proteger contra a contaminação, torna-o indispensável em ambientes médicos estéreis, como hospitais;

  • Se correctamente instalado, permite um isolamento que diminui a perda de calor ou do frio em casas e escolas em cerca de 70%, tornando-as mais quentes ou frescas, com maior eficiência energética

  • As peças de automóveis em plástico (11% do total de materiais usados), tornaram os carros mais leves, com menos consumo de combustível fóssil e, consequentemente, com menos emissões de CO2

  • São cruciais para as energias renováveis ​(tubos, painéis solares, turbinas eólicas, rotores).

  • Actualmente, os frigoríficos usam fibras sintéticas nos seus sistemas de isolamento, que garantem que os alimentos e as bebidas se mantenham mais frescas e geladas por mais tempo, gastando menos energia.

Podia dar muitos mais exemplos, mas para a ideia que pretendo transmitir parece-me suficiente… é que a guerra não deve ser contra o plástico per si, mas sim contra o seu uso indevido e desnecessário.

E o seu uso indevido remete-nos para a quantidade de lixo plástico, que está, lenta e inegavelmente, a tomar conta dos nossos oceanos, aterros sanitários e até mesmo da nossa comida.

Mas o seu impacto negativo começa muito antes de se tornar lixo. E é nesta “fase” que me vou focar. Mesmo nos bons exemplos dados acima, os tipos de plástico usados não são necessariamente consensuais no que à sua segurança diz respeito. Também por esta razão, quanto melhor os conhecermos, melhor saberemos quando usá-los, recusa-los ou reutiliza-los.

A própria indústria criou um código de identificação que nos permite, enquanto consumidores, ter pelo menos uma ideia geral dos vários tipos de plástico que encontramos nos objectos do nosso dia a dia, o seu respectivo impacto e a sua (potencial) reciclabilidade. Ainda assim, a sua utilização não é obrigatória.

Os plásticos são representados por um triângulo composto por três setas e por um código e número de identificação, do 1 ao 7, ao centro. Podem encontrar este símbolo na parte inferior de cada recipiente, e é a partir dele que ficamos a saber o material usado na sua produção.

Cada uma destas categorias apresenta diferentes características. Não sendo eu especialista no assunto, nem tendo formação para o efeito e tendo encontrado informações contraditórias, vou tentar não explorar o tema em demasia, não usar demasiados palavrões que desconhecia até aqui, mas ainda assim resumir a informação que li em diversas fontes para, pelo menos, evitar que o caro leitor tenha esse trabalhão 😉.

Destas 7 categorias existentes, as N2, N4 e N5 são, teoricamente, as mais seguras para a nossa saúde. As N1 e N7, de que falo no MAU, devem ser usadas com muita precaução e as N3 e N6, que deve evitar, falo nos VILÕES. As escolhas mais seguras:

  • N2 PEAD. Os Polietilenos de Alta Densidade são a família de plásticos mais utilizada no mundo, em materiais como sacos de plástico (mercearia), embalagens opacas de leite, iogurtes e sumos, lixívia, detergente e frascos de shampoo, sacos de lixo, forras de caixas de cereais, algumas garrafas de medicamentos, entre outros.

A sua utilização é relativamente segura e a sua taxa de reciclagem razoável.

  • N4 PEBD. O Polietileno de Baixa Densidade é um polímero resistente, leve e muito flexível, usado para produzir sacos industriais de lixo, tampas, sacos para comida congelada, película aderente, sacos com zipper, copos de plástico, rótulos de brinquedos, entre outros.

A sua utilização é relativamente segura. É um material de difícil reciclagem.

  • N5 PP. A sigla PP identifica o Polipropileno, um material com elevada resistência à humidade, ao calor, a produtos químicos e a óleos e gorduras. Os plásticos com esta classificação podem ser usados para fabricar embalagens para margarina, palhinhas, seringas descartáveis, utilidades domésticas. Encontra-o ainda nos recipientes seguros para micro-ondas e máquinas de lavar.

A sua utilização é relativamente segura. A sua taxa de reciclagem é baixa, porque muitas vezes se encontra pigmentado ou misturado com outras resinas sendo, portanto, de difícil classificação.

Nota: só pode ser lavado no micro-ondas/máquina de lavar louça, o que significa que o plástico não se deforma quando aquecido. Isso não implica que seja uma prática saudável. Uma alternativa melhor é usar recipientes de vidro para aquecer alimentos e lavar à mão o plástico, em vez de usar a máquina de lavar louça.

O MAU

  • N1 PET (Poliéster). Trata-se de um plástico transparente e brilhante, com ou sem cor, usado para a produção de garrafas de água, fibras têxteis (basta ver a composição de qualquer camisola de fast fashion que tenha aí por casa), refrigerantes, estruturas insufláveis, óleos de cozinha, boiões de plástico.

Quanto mais tempo um líquido for deixado num recipiente PET, maior é o seu potencial de libertação de antimónio (um produto químico tóxico). Além disso, temperaturas quentes dentro de carros, garagens e áreas de armazenamento fechadas aumentam a libertação de ingredientes tóxicos no respectivo líquido.

Assim sendo, evite-o. Este tipo de plástico é produzido para uma única utilização. E se tiver mesmo de utiliza-lo, mantenha-o longe do calor e NÃO o reutilize. É de fácil reciclagem, embora resulte em produtos de qualidade inferior.

  • N7 Outros. Aqui encontramos todos os outros materiais plásticos, alguns mais nocivos que outros.

O Policarbonato (PC), dos materiais mais usados nesta categoria, deriva do Bisfenol A (BPA), um disruptor endócrino, ou seja, uma substância que causa alterações na função fisiológica das hormonas endógenas. É usado em embalagens de alimentos em geral, garrafas de plástico reutilizáveis de 11 e 18 litros, óculos de sol, cd’s, legos.

Deve evitar a sua utilização ou procurar produtos que explicitamente refiram estarem isentos das suas substâncias mais tóxicas.

O VILÃO

  • N3 V ou PVC (Vinil). Este plástico rígido ou flexível, muito versátil e resistente a produtos químicos, é usado para tudo, desde a construção civil a dispositivos médicos, de pelicula aderente a cartões de crédito e de brinquedos infantis a tubos para água e gás.

E, no entanto, é considerado o mais tóxico e perigoso dos plásticos, em toda a sua cadeia de produção, podendo liberar substâncias como BPA e ftalatos (produtos químicos utilizados como aditivos para plásticos, de modo a torná-los mais maleáveis).

Deve evitar a sua utilização. É de difícil reciclagem.

  • N6 PS. O Poliestireno é usado numa variedade de produtos, incluindo recipientes de alimentos de esferovite (usado para carne e peixe à venda nos supermercados), caixas de ovos, copos e tigelas descartáveis, recipientes de comida de take-away, capacetes de bicicleta, lâminas de barbear, discos compactos e caixas de DVD.

Deve evitar a sua utilização, porque este produto pode libertar estireno, substância considerada cancerígena, quando em contacto com o calor. Muitas vezes usado para manter alimentos ou líquidos quentes, é nesta situação que este material apresenta maior perigo.

Seguros ou não, aqui ficam alguns conselhos para o seu dia-a-dia:

  • Como não há garantia total de que os plásticos não vazem substâncias químicas nocivas, e como em última instância estes tardam centenas de anos a desaparecer do planeta, a recomendação que deixo é que evite o plástico sempre que possível.

  • Habitue-se a verificar o número identificativo do tipo de plástico

  • Independentemente do plástico que usar, evite expor os seus plásticos a altas temperaturas (micro-ondas, lava-louças) e use detergentes suaves para a limpeza.

  • Evitar o número 6 mantê-lo-á longe do estireno e evitar os números 3 e 7 ajudá-lo-á a evitar o BPA e os ftalatos. Esta recomendação é particularmente importante quando escolher recipientes ou utensílios para usar na cozinha

  • Dê preferência à utilização de recipientes para alimentos ou utensílios de cozinha que possuam os algarismos 2, 4 ou 5. Aliás, prefira outros materiais não plásticos...

  • Na escolha de objetos plásticos, procure as designações “sem BPA” (“BPA free” em inglês), sem BPS e “sem Ftalatos” (“Phthalate free” em inglês), o que lhe dará a segurança de saber que estas substâncias não estão presentes no produto em questão. Por exemplo, não escolha brinquedos para bebés, para piscina e para o banho que sejam rotulados como PVC

  • Esqueça a garrafa de água plástico de uso único e opte por uma garrafa de água reutilizável, feita de metal ou vidro.

  • Escolha alimentos frescos sem embalagem. Comer alimentos que não usam embalagens plásticas é uma ótima maneira de manter as toxinas plásticas fora de seu corpo.

  • Compre uma cortina de chuveiro feita de cânhamo orgânico, bambu ou PEVA. O PEVA (polietileno vinil acetato) é um plástico biodegradável não vinílico (isento de PVC), isento de cloro

  • Deixe circular o ar do carro antes de entrar

  • Evite usar pelicula aderente feita de PVC

  • Evite estruturas insufláveis, colchões de ar e brinquedos feitos com PVC. Nota: Aerobed pakmat e Aerobed Ecolite são livres de PVC e ftalatos

  • Embale restos de comida de restaurantes no seu próprio copo ou recipiente de aço inoxidável

  • Evite copos ou pratos de esferovite e, em vez disso, use produtos de aço inoxidável, vidro ou bambu

  • Traga os seus próprios talheres para restaurantes de fast-food

CONCLUSÃO

A principal conclusão que tiro é “chapa-cinco”. A informação que necessitamos está à distância de um clique, sim, mas precisamos de clicar umas 2 ou 3 ou 4 vezes em sites diferentes para garantir que aquilo que estamos a ler é um facto, uma verdade fundamentada, e não uma opinião sem alicerces. E ainda assim, ficam dúvidas.

Se de confirmação precisava, a mais importante elacção que retiro da informação que li, pesada, contraditória, é que só mesmo um estilo de vida menos consumista, com menos desperdício, mais natural, menos processado, respeita o habitat em que vivo.

Reforçou a minha vontade de desplastificar, mas mais ainda de libertar o meu dia-a-dia de embalagens desnecessárias, sejam elas de que material for (esta parte explorarei num próximo artigo…).

Só uma aplicação das regras subjacentes ao Desperdício Zero podem minimizar o nosso impacto na mãe Natureza: Recusar, reduzir, reutilizar e só se nenhuma destas 3 for possível é que devemos reciclar e compostar.

Em poucas palavras, menos é mais.

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